Tiro a roupa,
peça a peça,
sentido o corpo se libertar,
sinto-lhe a forma o cheiro,
que até então aprisionado,
começa agora a se revelar...
Depois de excomungados os panos,
a pele arrepia independência,
sente-se em afinação,
com a sua verdadeira essência...
mas porque não me sinto eu nua,
se de mim já se foram os panos
existe algo ainda a despir,
neste meu corpo de enganos...
Sento-me sobre a razão,
esperando dela a resposta,
e como a refeição,
da sua mesa já posta...
É então que me vejo,
pelo espelho a primeira vez,
e vejo que continuo vestida,
por baixo da minha nudez...
A alma continua trajada,
desse mundo que não entendo,
mas que desfolho dia a dia,
e pouco a pouco o vou lendo...
Rasgo de mim as rodilhas
que ainda me ligam ao infiel,
e desarmo de vez a alma,
numa folha de papel...
É na minha velha poesia,
das letras da alma jorradas,
que encontro-me comigo,
neste patamar de escadas...
Deposito em todos os meus versos,
tudo o que de belo eu sinto,
sem medos e sem vergonha,
deste ser sempre faminto...
Quem me quiser ver nua,
tem que me saber ler,
não basta juntar apenas as letras,
tem que as saber beber...
deixá-las escorrer pela garganta,
espalhando o seu licor,
até chegar ao coração,
e aquece-lo com o meu calor..
*** Ártemis ***